segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CONFIRAM NA VEJA "A JUSTIÇA DEPOIS DO MENSALÃO"

MARCHA CONTRA CORRUPÇÃO DE 07 DE SETEMBRO DE 2012





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10/09/2012
às 16:47 \ Política & Cia

Ministra Eliana Calmon (Foto: GF fotografias)
Entrevista de Rodrigo Rangel publicada em edição impressa de VEJA que está nas bancas 

A JUSTIÇA DEPOIS DO MENSALÃO
A ministra deixa a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça certa de que a condenação dos mensaleiros vai levar à tolerância zero com a corrupção nos tribunais brasileiros
Eliana Calmon é capaz de ficar horas e horas falando sobre culinária. Sua especialidade mais admirada, porém, é outra. Há dois anos, ela assumiu o cargo de corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) prometendo combater com rigor os desmandos dos juízes. Não era promessa de político. Antes disso, já tinha se envolvido em sonoras brigas no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao denunciar que alguns de seus colegas faziam conchavos para interferir na escolha dos novos integrantes da corte e, assim, influir em suas futuras decisões.
No CNJ, a ministra apontou a existência de “bandidos escondidos atrás de togas”, generalização que atraiu sobre ela a ira da categoria. Sob seu comando foi aberto um número recorde de processos para apurar a conduta irregular de juízes. Na semana passada, antes de deixar o cargo de corregedora e voltar ao STJ, a ministra fez a VEJA um balanço de sua gestão.

O julgamento do mensalão terá algum impacto sobre a Justiça brasileira como um todo?
Esse é um julgamento de importância fundamental para o Brasil, porque toda a nação está examinando como se comportará o Poder Judiciário. O Judiciário também está sendo julgado. Esse julgamento vai refletir o que é a Justiça brasileira. Os ministros podem condenar ou absolver, mas terão de mostrar com clareza por que estão condenando ou absolvendo. Isso está sendo feito.

O rigor que os ministros do Supremo têm demonstrado com relação à corrupção reflete uma mudança de parâmetros?
O Supremo faz com que a magistratura se enquadre num novo modelo. Toda carreira — e a magistratura em especial vive de lição e exemplo. Temos de ser exemplo para as pessoas que estão abaixo de nós. No momento em que o Supremo ensina a lição e dá exemplo, vira referencial.
O juiz de comarca passa a ter referência, admiração, e passa a trabalhar para se igualar àqueles que ele admira no topo da hierarquia. Quando o Supremo faz um julgamento técnico, sério e até rápido, com votos compreensivos, como tem sido neste caso, isso transmite credibilidade ao povo brasileiro.
O Supremo está dizendo que a corrupção, que durante dois séculos reinou neste país, a partir de agora tem um freio, e esse freio está no Poder Judiciário. Não haverá mais tolerância com a corrupção. Não tenho dúvida de que isso já está provocando mudanças nos planos de certos bandidos, inclusive os de toga.

Por que essa atitude mais proativa em defesa do bem público demorou tanto a chegar ao Poder Judiciário?
A Justiça não se apercebeu das mudanças que a Constituição trouxe. Na medida em que o Judiciário não tem consciência de seu papel, vira o chancelador do que os outros poderes decidem. O Judiciário demorou a perceber que tem poder próprio e não deve funcionar como extensão dos outros poderes.

A senhora deixa o Conselho Nacional de Justiça mais assustada ou mais aliviada?
Conheci as entranhas do Poder Judiciário e pensei que a situação estivesse melhor. Na Corregedoria, eu vi a Justiça em uma situação muito negativa. A gestão, por exemplo, ainda é muito ruim. Mas saio aliviada porque me aproximei muito dos tribunais, que perceberam que com boa gestão é possível melhorar.
Não digo que fiz um saneamento, mas fiz parceria com os presidentes dos tribunais. São Paulo é um exemplo que me deixa maravilhada. Era um tribunal fechado, que nunca aceitou o CNJ, mas no fim conseguimos avançar. É preciso eliminar de vez o patrimonialismo e o compadrio. Alguns tribunais até hoje fazem favores ao governador, e o governador arruma emprego para parentes de juízes.

A senhora gerou uma crise sem precedentes no Judiciário quando disse que há bandidos escondidos atrás de togas. Eles existem mesmo?
É claro que há bandidos de toga. É só olhar o número de juízes afastados por improbidade, olhar o número de investigações instauradas nos últimos tempos. Os números são grandes. Olhe que a Corregedoria do CNJ tem uma estrutura pequena para tantos problemas, e não temos condições de descobrir tudo.
Aquilo que eu falei, e não foi generalizando, falei numa linguagem forte para mostrar que muitas vezes as pessoas querem se esconder atrás da toga porque buscam a proteção que o cargo dá. Na verdade, eu acabei sendo intérprete da consciência coletiva.

"O Judiciário sempre foi conivente com os outros poderes, sempre foi um chancelador do que os outros poderes decidiam. Até hoje há juízes que comungam da ideia de que é preciso ser amigo do rei" (Foto: ABr)
"O Judiciário sempre foi conivente com os outros poderes, sempre foi um chancelador do que os outros poderes decidiam. Até hoje há juízes que comungam da ideia de que é preciso ser amigo do rei" (Foto: ABr)
Qual foi a parte mais difícil do trabalho da senhora como corregedora?
A função disciplinar é difícil porque há uma grande resistência por parte das associações de juízes. O corporativismo é forte. Ainda pensam que, se acharmos corrupção, temos de resolver a questão internamente, sem levá-la ao conhecimento da sociedade. Eu penso diferente.
Nós temos, sim, de levar as mazelas do Judiciário ao conhecimento da sociedade. Uma das punições é justamente essa. Até porque a legislação que trata de punições a juízes é muito antiga. Por ela, a punição máxima para um desembargador é a aposentadoria. Se não for uma falta gravíssima, ele ficará sem punição. Daí eu acho que uma das penas mais temidas é a divulgação daquilo que for constatado.

Qual é o perfil desses “bandidos de toga” a que a senhora se refere?
Obviamente não estou afirmando que todos os juízes que dizem só falar nos autos são bandidos, mas o criminoso de toga tende a ser um juiz hermético, formalista, que fala pouco e não recebe as partes. Mas ele está apenas se escondendo atrás do formalismo. Essa atitude o beneficia. O objetivo dele é fazer da Justiça um balcão de negócios. Ele sabe quais processos podem render dinheiro. Existem alguns nichos preferenciais, como os processos por dano moral.

Por quê?
Porque o dano moral não é mensurável pela lei. Os bancos também são vítimas frequentes. Os juízes dão decisões, impõem multas estratosféricas e mandam depositar o dinheiro imediatamente. Muitas vezes o juiz se associa ao advogado e divide os lucros. É claro que, em um universo de 16000 juízes, nem 2% fazem isso, mas o estrago para a carreira é muito grande. Essa é a pior face da magistratura.

A senhora fala muito da “intimidade indecente” entre o Judiciário e a política. Por que ela teima em existir?
Isso vem de dois séculos. O Judiciário sempre foi conivente com os outros poderes, sempre foi um chancelador do que os outros poderes decidiam. Até hoje há juízes que comungam da ideia de que é preciso ser amigo do rei.

O modelo de nomeação de juízes de tribunais superiores, que são escolhidos politicamente por decisão do presidente da República, contribui para essa relação?
Esse é o caminho. Em todos os países, quem escolhe os ministros da Suprema Corte é o presidente da República. Pensei muito nisso, inclusive quando passei por esse processo para chegar ao STJ. É doloroso para um juiz de carreira enfrentar um processo tão político. Você aprende que um magistrado deve ficar afastado da política, não deve se imiscuir na política, mas na hora H tem de passar a cuia entre os políticos pedindo o favor da indicação.

Existe uma maneira de quebrar essa situação de dependência do Judiciário em relação aos políticos?
Do ponto de vista formal, o processo de escolha de ministros de tribunais superiores é perfeito. O indicado é escolhido pelo presidente da República e submetido ao Senado, que o sabatina para ver se tem notável saber jurídico. Tudo isso é público e as pessoas podem avaliar se o indicado tem os requisitos necessários para o cargo. Tudo perfeito. Mas só na teoria.
Na prática é diferente. Falta responsabilidade. Dentro do Judiciário, no qual se diz que não existe política, há a política miúda dos grupelhos que se acertam para escolher quem vai compor as listas de indicados. O Executivo escolhe de acordo com os apoios políticos, ou seja, os padrinhos.
Por sua vez, o Legislativo, que deveria analisar o saber jurídico e a reputação ilibada do indicado, não faz o que deve. Antes da sabatina, o indicado visita os gabinetes dos senadores para amortecer intervenções que não sejam do seu agrado. A sabatina vira apenas uma formalidade.

A senhora também teve padrinhos?
Lógico. Todo mundo busca apoio, só que ninguém diz. Eu tive como padrinhos os senadores Antonio Carlos Magalhães, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Edison Lobão. Amigos me levaram até eles, e eles se tomaram meus padrinhos.

Esse apadrinhamento não é cobrado depois, na forma de algum favor?
Imagino que sim. A mim nunca fizeram pedido, porque quando cheguei lá coloquei tudo às claras, incluindo os nomes de quem me indicou. Quem vai pedir alguma coisa a uma língua ferina como esta minha? Nós precisamos é de seriedade institucional.
Na hora de escolher alguém para um cargo relevante, não se pode pensar em colocar o amigo, alguém que vá fazer favor. Tem de ser o melhor possível, para fazer justiça, para ser um bom ministro.

A senhora foi acusada de abuso nas investigações de juízes especialmente quando começou a apurar suspeitas de enriquecimento ilícito. A reação foi exagerada?
Eu tratei as questões do Judiciário de forma muito incisiva e crua. E isso chocou um pouco. É um poder muito fechado e corporativista, que se sentiu agredido. Mas eu falei o que tinha de falar, e fiz isso para chocar mesmo, porque, se não chocasse, não causaria o efeito que causei. Eu estava disposta a mudar, e ninguém muda comodamente. A gente só muda quando choca.

"Não vou me meter em política de maneira nenhuma" (Foto: Gilmar Félix / Agência CNJ)
A senhora prevê alguma hostilidade na sua volta ao Superior Tribunal de Justiça, no qual comprou brigas?
Uma dessas brigas foi criticar a atuação de filhos de ministros como advogados na corte. Esse problema resiste no STJ. Antigamente os filhos de ministros viviam como funcionários públicos. Quando nós combatemos o nepotismo e achamos que tínhamos realizado uma grande coisa, combatemos um problema e o outro ficou. Não se pode impedir que filhos de ministros advoguem.
O grande problema é o fato de eles usarem seu nome para fazer cooptação de clientela. Eles dizem ao cliente que têm influência no tribunal porque são filhos de ministros. No meu gabinete, eles não têm vez nem para marcar audiência. Nem filho de ministro nem ministro aposentado atuando, que é outra coisa imprópria mas existe. O ministro se aposenta e vai fazer lobby no tribunal. Nós precisamos acabar com essa prática, não dando chance de aproximação.

Por que essa prática resiste, apesar de ser imprópria?
Muitas vezes esses filhos de ministros não têm nem procuração nos autos. Eles não fazem sustentação oral, não fazem nada, só acompanham outros advogados para facilitar o acesso. Entram apenas para dar a impressão ao cliente de que realmente têm chance de ganhar, não por ter o direito, mas por influência.
Em alguns gabinetes, dizem que isso funciona. Vende-se a ideia de que filho de ministro faz milagres. Faz milagres porque é mais inteligente? Não, é porque, se não der jeito, vai fazer safadeza. É a advocacia de lobby, que não se sustenta pelas razões jurídicas, mas pelas razões extrajurídicas, de amizade, de afeto, de relacionamentos.

Qual é a consequência mais visível desse tipo de situação?
Em primeiro lugar, isso desacredita a Justiça. Além do mais, é uma absoluta injustiça para com os advogados que são sérios, trabalhadores e vão à tribuna defender o direito. A advocacia de lobby causa um mal enorme e precisa ser banida, é um horror. É obrigatório acabar com isso. Cabe aos próprios ministros coibir essa prática. Isso só depende de nós. Basta perguntar ao “advogado” que chega ao gabinete se ele tem procuração nos autos. Se não tem, o ministro tem de dizer: “O senhor ponha-se daqui para fora”.

Sua visibilidade fez surgir rumores de que poderia sair candidata a algum cargo político. Isso está nos seus planos?
Já me convidaram para ser candidata a senadora pelo Distrito Federal, mas não vou me meter em política de maneira nenhuma. Também não vou advogar. De dinheiro eu não vou precisar, porque tenho uma vida modesta e a minha aposentadoria certamente será suficiente. Penso em mais tarde, quem sabe, participar de uma entidade de combate à corrupção ou me dedicar aos livros de culinária.
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5 Comentários
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  1. Lourival dos santos filho
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12/09/2012 às 13:56
Ministra Eliana Calmon,como eu, e milhões de brasileiros, gostaríamos de vê-la no STF.
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  1. Lourival dos santos filho
-
12/09/2012 às 13:37
Ministra Eliana Calmon,como eu, e milhões de brasileiros, gostaríamos de ve-la no STF.
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  1. Elisabete Pereira
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10/09/2012 às 21:45
Pessoas como a Ministra Eliana Calmon,me fazem acreditar que eu não sou uma exceção por acreditar e lutar pela justiça
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  1. Natal
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10/09/2012 às 18:21
Ela deveria ir para o Supremo, já!

Defendi a tese há tempos, mas ela passou da idade mínima para chegar ao Supremo, que é de 65 anos de idade.
Abraço
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  1. Reynaldo-BH
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10/09/2012 às 17:42
Um detalhe (detalhe?) não deixa de ser estarrecedor, embora sobejamente conhecido. A necessidade de padrinhos.
Que Eliana Calmon confessa, mesmo deixando claro que não se submeteria à ordens ou favores dos mesmos.
Que estranha lógica que Sarney, ACM, Renan e Lobão “fazem” ministros do STF! TODOS, sem exceção, mais para réus em ações do que conselheiros do Poder Judiciário. A maleabilidade necessária para ser indicado(a) e não manter vassalagem aos padrinhos, mancha definitivamente o processo de seleção. Deixamos nas mãos de cada indicado a ética e decência mais necessárias que o próprio saber jurídico. Ou no escopo moral de cada qual.
Que procedimento é este que fragiliza um poder frente a outros? Um indica; o outro faz lobby e o terceiro (que deveria ser o mais independente de todos!) aceita o Mise-en-Scène indecente.
Até quando vamos considerar o Poder Judiciário algo acessório na cidadania? Ou de menor importância?
É como os que aceitam as mazelas imorais do atendimento público à Saúde. Se esquecem que em um acidente (de qualquer ordem) será este atendimento que será prestado, pouco (ou nada) valendo os planos provados de Saúde.
O Judiciário está somente no campo de visão – de alguns – como aquele que condenará algum desvio cometido por quem assim deu causa. Não se enxerga a certeza da garantia legal da cidadania.
Eliana Calmon honrou a indicação e a atuação no STJ e CNJ.
Embora tenha sido apadrinhada pela escória política brasileira. Exceto ACM (que morreu antes de ser cooptado!) todos fiéis aliados do estado putrefato que se instalou em nome de um pensamento único.
Que atingiu até o Judiciário.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

CONFIRAM "MANIFESTAÇÕES NO BRASIL AMANHÃ - SERÁ QUE O BICHO PEGA ? (DIÁRIO DO COMÉRCIO - 06/09/12)"


 






 

MANIFESTAÇÕES NO BRASIL AMANHÃ - SERÁ QUE O BICHO PEGA ? (DIÁRIO DO COMÉRCIO - 06/09/12)

por Reforma Política Já, Quinta, 6 de Setembro de 2012 às 13:19 ·

por Armando C. Serra Negra - Diário do Comércio

www.dcomercio.com.br

Animados com o desenrolar do julgamento do Mensalão, causa dominante nas manifestações públicas anticorrupção, os grupos sociais prometem sair às ruas novamente no feriado de amanhã. “Temos confirmadas 70 cidades em todo o Brasil, estimando o comparecimento de 300 mil pessoas nas ruas; mas a avaliação está longe de concretizar-se, pois a maioria dos internautas apertam o botão de presença mas não comparecem”, confere Carla Zambelli do grupo Nas Ruas/SP. Ela se refere ao slacktivism, ou “ativismo preguiçoso”: militar sem sair de casa. “Protestar só na rede também vale”, diz ela. Carla acredita que pelo menos 500 pessoas marcarão presença no MASP amanhã, a partir das 14h. Em pauta: 1) justiça no julgamento do Mensalão; 2) fim do voto secreto parlamentar; 3) homenagem à ministra Eliana Calmon.

No Rio de Janeiro os grupos não se organizaram: “O julgamento do Mensalão está rolando, e por isso temos fé que, no próximo feriado (12 de outubro), sairemos para aplaudir o trabalho do STF (Supremo Tribunal Federal)”, diz Marcelo Medeiros, do grupo 31 de Julho.

A animação maior será em Brasília, berço dos movimentos de protesto online. Foi lá que no ano passado as irmãs Lucianna e Daniella Kalil se surpreenderam com 30 mil pessoas comparecendo à sua “Marcha Contra a Corrupção” – o evento pioneiro lançado no Brasil por meio do Facebook. “Tínhamos visto no Dia Internacional Contra a Corrupção (09 de dezembro) um evento bacana, o pessoal caminhando e andando de bicicleta, mas sem nenhum apelo nas redes sociais; então criamos a página, marcando o evento para o dia sete de setembro”, lembra Daniella. Até o dia 31 de agosto, quando a Câmara dos Deputados absolveu Jacqueline Roriz (PMN/DF), mesmo após ser filmada recebendo propina, o convite chegara a três mil pessoas. Mas no dia seguinte o número subiu rapidamente para sete mil.

“O convite começou a espalhar-se espantosamente, como se fosse o relógio do Impostômetro; em apenas uma semana, no dia 7 de setembro, chegou a 200 mil pessoas. Foi uma emoção ver a multidão chegando de camiseta preta (sugerida para o evento) na Esplanada dos Ministérios”, recorda. Ao longo dessa semana outros grupos também começaram a pipocar na rede, em todo o Brasil, garantindo uma passeata, em São Paulo, de três mil pessoas. Embora um pouco afastadas da militância, e “sua” Marcha tendo adquirido vida própria, elas acreditam que a manifestação anticorrupção de amanhã, em Brasília, repetirá o sucesso do ano passado.

 

ELIANA CALMON PARA MINISTRA DA JUSTIÇA



 

 
Eliana Calmon: “saio com sensação de dever cumprido”
 
04/09/2012 - 20h30
 
Gilmar Ferreira/ Agência CNJ
A corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon – que deixa o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) esta semana – se despediu dos colegas na última sessão plenária à frente do cargo, fazendo uma avaliação positiva de sua gestão, iniciada em setembro de 2010. “Saio com a consciência de dever cumprido. Fiz o que foi possível fazer”, disse.
A ministra atribuiu ao trabalho da Corregedoria e à parceria firmada com alguns tribunais as mudanças positivas observadas em parte do Poder Judiciário. “Vi tribunais saírem do chão e conseguirem se soerguer. Vi algumas corregedorias locais crescerem por um incentivo meu”, afirmou. As transformações ocorridas nos tribunais de Justiça de Tocantins, Amazonas, Mato Grosso, Piauí e São Paulo foram citadas por ela como exemplos de sucesso.
Homenagens – O presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ, ministro Ayres Britto, liderou as homenagens dos conselheiros ao trabalho da ministra Eliana Calmon. Ayres Britto elogiou o entusiasmo, a coragem e o combate ao patrimonialismo demonstrados pela ministra Eliana Calmon e sua equipe. “Vossa Excelência é a encarnação desse antipatrimonialismo e do impessoalismo de que trata nossa Constituição como os princípios regentes da atividade administrativa”, afirmou.
De acordo com Ayres Britto, o combate à improbidade administrativa, malversação de recursos, desvio de funções e atos de corrupção “não no sentido rigorosamente penal” marcaram a passagem da ministra pelo Conselho. “Vossa Excelência alentou a cidadania, que não se sentiu esvaecida e não resvalou para o temerário campo do ceticismo durante a sua proficiente, profícua e paradigmática gestão”, disse.
Em relação aos julgamentos disciplinares que relatou, a ministra reconheceu que foi dura por causa de sua aversão à corrupção, especialmente nas fileiras da magistratura. “Quem tem o poder de prender, liberar ou bloquear patrimônio, decidir sobre a vida econômica e afetiva das pessoas não tem o direito de transigir eticamente”, destacou.  
Prioridades – A corregedora reconheceu ter priorizado a missão profissional em relação à vida pessoal. “Eu não me enganei, eu já sabia: para se ser ético, não se pode ter uma vida cômoda. A minha vida nesses dois anos foi extremamente incômoda, mas eu me dispus a ser para fazer o que estava a meu alcance, humildemente”, afirmou.
Da sua passagem pelo CNJ, revelou não guardar mágoas. “Não existe mágoa no meu coração porque eu sou feliz e quem é feliz não tem mágoas”, concluiu. Eliana Calmon também pediu desculpas aos colegas “por algum desagrado, alguns maus modos. É uma questão de personalidade. No meu íntimo, sou muito afetiva e quero muito bem às pessoas”, afirmou.   
A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) será o próximo destino profissional da ministra. Após um mês de férias, ela dirigirá a instituição, cargo para o qual foi eleita pelos seus colegas do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Manuel Carlos Montenegro
Agência CNJ de Notícias
www.cnj.jus.br/j9mc


 
FONTE/CONEXÃO: http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/09/eliana-calmon-se-despede-dizendo-que-foi-durissima-como-corregedora.html

 

04/09/2012 19h48- Atualizado em 04/09/2012 20h43

Eliana Calmon se despede dizendo que foi 'duríssima' como corregedora

Ministra deixará cargo na quinta, após dois anos à frente da Corregedoria.
Justiça tem de parar com 'bobagens [...] da magistratura napoleônica', disse.

Fabiano CostaDo G1, em Brasília

9 comentários

A corregedora-nacional de Justiça, Eliana Calmon
(Foto: Elza Fiúza/ABr)

Na última sessão como corregedora nacional de Justiça, a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon afirmou diante dos colegas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que foi “duríssima” durante os dois anos em que esteve à frente da corregedoria do órgão.

Segundo a magistrada, nesse período, ela teve a oportunidade de conhecer as “entranhas” do Judiciário. “Saio com a consciência de dever cumprido, fiz o que era possível. Na parte disciplinar, fui duríssima porque não aceito corrupção. E, vindo da magistratura, então, é inaceitável. Não tem o direito de transigir eticamente", declarou Eliana, após ser homenageada pelos integrantes do CNJ.

A corregedora, que deixa o cargo na quinta-feira (6), enfatizou em seu discurso de despedida que o Judiciário tem de parar com as “bobagens que vêm da magistratura napoleônica”.

“Chega de dizer que juiz tem de ser respeitado porque é autoridade. O magistrado é um prestador de serviços”, declarou.

Ao longo dos dez minutos em que falou no plenário do CNJ, Eliana Calmon também revelou um episódio que a teria desafiado.

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De acordo com a ministra, ao ingressar no posto de corregedora, o então presidente do órgão, ministro Gilmar Mendes, disse que se ela não interviesse no Judiciário de São Paulo “não teria feito nada pela magistratura”.

Mas, segundo afirmou, o antecessor na corregedoria, ministro Gilson Dipp, a advertiu que ela "não conseguiria entrar em São Paulo”. Conforme a ministra, Dipp a advertiu de que a corte paulista era “refratária a qualquer mudança”.

“No final do ano, decidi calçar as botas de soldado alemão e ir a São Paulo fazer uma inspeção. Daquele dia em diante, as coisas começaram a mudar e destravaram lá dentro”, contou.

Primeira mulher a ocupar um assento no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana Calmon disse que as mudanças que conseguiu estimular no Judiciário paulista “coroaram” sua gestão como corregedora.

“Todos estão de mangas arregaçadas para ajudar o presidente do TJ-SP a soerguer o tribunal. Não fiz aquilo, mas fui uma pedra na construção daquele edifício”, disse.

Vida 'incômoda'
Baiana de Salvador, Eliana Calmon confidenciou aos conselheiros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que sua vida no posto de corregedora “foi completamente incômoda”.

Ao longo dos últimos dois anos, a magistrada protagonizou inúmeras polêmicas com integrantes do Judiciário, entre os quais o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cézar Peluso.

Em 2011, a corregedora gerou um mal-estar com Peluso, então presidente do CNJ, ao declarar em uma entrevista que havia “bandidos escondidos atrás da toga”. À época, discutia-se a possibilidade de o Supremo reduzir o poder do órgão de fiscalizar atos praticados por juízes.

“Para ser ético não é possível ter uma vida cômoda. Minha vida nos últimos dois anos foi completamente incômoda. Mas me retiro sem mágoas, débitos ou créditos”, disse a ministra.

Eliana Calmon ainda observou que foi “indiscreta” no cargo de corregedora. Segundo a magistrada, ela teve de “usar a mídia” para a população saber o que se passava nos bastidores do Judiciário.

“Peço desculpa pelos meus maus modos, mas é absolutamente uma questão de personalidade. No meu íntimo, sou afetiva e quero bem às pessoas. Não tenho mágoas no meu coração”, afirmou, antes de ser aplaudida de pé pelos colegas do CNJ.

Ato de desagravo
A sessão de despedida de Eliana Calmon da Corregedoria Nacional de Justiça foi marcada por pedidos de vista dos conselheiros do órgão. Dos 25 processos relatados pela magistrada nesta terça (4), dez foram adiados por conta de solicitações dos integrantes do CNJ para ter mais tempo para analisar os casos.

Indagada por jornalistas no retorno do almoço se os pedidos de adiamento teriam sido “orquestrados” pelos colegas, ela disse não saber. Porém, afirmou que era preciso aguardar o final da sessão para saber se a “orquestra estava boa ou ruim”.

No encerramento do encontro, o presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, que acumula o comando do CNJ, pediu a palavra para prestar uma homenagem à corregedora. Segundo o chefe do Judiciário, a ministra tem o “dom da indignação”.

“Vossa Excelência tem uma personalidade produtiva, incansável. De quem veste a camisa e tem a característica da agressividade profissional. Mais do que pegar touro à unha, Vossa Excelência pega relâmpago em pelo”, destacou Ayres Britto.

Ressaltando que conviveu por poucos meses com a corregedora, o presidente do STF afirmou que Eliana “move céus e terras” para apurar as coisas que lhe parecem equivocadas. “Não teme represálias, criticas, censuras, sempre consciente de que age no cumprimento de seu dever legal”, complementou.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também participou do ato de desagravo à ministra. Para ele, Eliana exerceu seu cargo “desassombradamente”.

“A Corregedoria Nacional está certamente entre as mais complexas e espinhosas atribuições do estado brasileiro. E Vossa Excelência (Eliana) exerceu seu cargo desassombradamente. Ficam marcas indeléveis do seu trabalho”, declarou Gurgel.